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Os Bondes no Recife



O bonde elétrico é um veículo urbano de tração elétrica que circulava sobre trilhos e se destinava ao transporte coletivo de passageiros e/ou de cargas. O nome bonde deriva-se do termo inglês bond (bônus). Na Inglaterra, quando da criação dessa modalidade de transporte coletivo, foi lançada uma campanha pública de bônus (bond) visando angariar fundos para instalação do serviço. Daí surgiu o nome brasileiro bonde.

         A história do bonde elétrico no Recife está intimamente vinculada à história política e social da cidade. Afinal, foram praticamente quarenta anos de circulação desse veículo pelas ruas do Recife. O bonde acompanhou o progresso, as mudanças socioeconômicas, a moda, as ascensões e quedas de governos.

         O serviço de bondes elétricos foi inaugurado oficialmente no dia 13 de maio de 1914, em cerimônia festiva, com a presença do então governador do Estado de Pernambuco, o general Emydio Dantas Barreto e outras autoridades. O povo foi às ruas do centro da cidade para ver o novo e moderno meio de transporte, administrado pela companhia inglesa Tramways.

  
      Os bondes eram altos, mas possuíam estribos para facilitar a subida dos passageiros. Mediam três metros de largura, tinham bancos largos de madeira que davam para acomodar cinco ou seis pessoas, em cada um. Nos bondes maiores, de dois truques, (conjunto de dois eixos de rodas sobre o qual se assentam as extremidades do chassi dos vagões, para lhes permitir entrar em curvas), as cadeiras podiam virar para um e outro lado. As linhas de ida e volta, com dois carros cruzando um com o outro, tomavam praticamente toda a largura das ruas que, em geral, mediam, no máximo, oito metros.


         As viagens morosas para os bairros distantes do centro da cidade, com as pessoas sentadas bem juntas umas das outras, em ambiente arejado, favoreciam as conversas, as leituras de jornais, livros e revistas, as amizades e os namoros. Era proibido fumar nos três primeiros bancos, no salão dos carros de primeira classe.

         O cumprimento rigoroso dos horários dos bondes era uma exigência da companhia, prevalecendo as normas de pontualidade britânicas. Além das tabelas de horários, entregues aos motorneiros, havia os relógios registradores, nos quais os motorneiros eram obrigados a registrar as viagens de ida e volta.

         Logo às primeiras horas do dia, começava o ruído das rodas de ferro do bonde sobre os trilhos. Era o único meio de transporte coletivo disponível para ricos e pobres, já que o automóvel era artigo de luxo, importado dos Estados Unidos e só pouquíssimas pessoas o possuíam. Todos usavam o bonde.


         A partir da meia-noite, começavam a deixar as oficinas (estações) da companhia os chamados bondes de empregados, que eram usados também pelas pessoas que trabalhavam à noite, os gráficos, os policiais, o pessoal das docas do Porto, e também os boêmios. A partir das três horas da manhã, os bondes começavam a funcionar cumprindo a tabela normal de horário das linhas da Várzea, Dois IrmãosTegipió, Casa AmarelaBeberibe, Peixinhos, Boa Viagem, Olinda. Mais tarde, quando o dia já estava claro, saíam os bondes das outras linhas: Água Fria, Campo Grande, Ponte d’UchoaIputinga, Areias, Casa Forte, Zumbi, Derby, Largo da Paz, Pina e Jiquiá.


         Atrelados aos carros de primeira classe, desciam dos subúrbios da zona oeste da cidade, principalmente Várzea e Dois Irmãos, os reboques de segunda classe, cheios de fardos de verduras, de cestos e balaios de frutas, e trouxas de todo tipo de mercadoria, destinados aos mercados e comércio em geral. Havia também bondes fechados. O bonde Zeppelin, por exemplo, era o mais bonito coletivo sobre os trilhos, que trafegava somente na linha de Olinda, conduzindo um carro-reboque, com as mesmas características e de igual tamanho do carro-motor.

         Das oito horas em diante, os bondes circulavam com sua plena capacidade, para acompanhar a movimentação do comércio, dos bancos, das agências de navegação e repartições públicas. À meia-noite, os bondes eram recolhidos às estações de Santo Amaro, Fernandes Vieira e João Alfredo.

         A cidade, sempre em expansão, impulsionava o aumento de usuários de bondes. Contudo, a oferta já não correspondia à demanda, começando então a sua decadência. Vários fatores contribuíram para o crepúsculo desse transporte coletivo: o crescimento populacional; as transformações sociais; o processo revolucionário de 1930, que alterou a conjuntura político-administrativa do País; a expansão territorial do Recife, com a criação de novos bairros e implantação de novas indústrias; a chegada de estrangeiros de várias nacionalidades, em decorrência da Segunda Guerra Mundial. Todos esses fatores contribuíram para a excessiva lotação dos bondes, que passaram a trafegar superlotados com pessoas penduradas nos balaústres, os chamados pingentes, o que muitas vezes ocasionavam acidentes, especialmente quando havia o cruzamento de um bonde com outro, ou com um caminhão cuja carroceria arrancava e matava uma ou mais pessoas, que estavam penduradas nos estribos. A sobrecarga acelerava o desgaste da estrutura, causando defeitos com maior freqüência, obrigando os carros a saírem de circulação para reparos nas oficinas.

         Com a Guerra, a importação das peças de reposição para reparo dos coletivos - motores elétricos, lâmpadas, madeiramento para os bancos e outras - foi ficando difícil. Para os defeitos apresentados eram feitos arranjos. Quando os bondes ficavam sem condições de trafegar, acabavam sendo rebocados para as oficinas.



         O desaparecimento desses coletivos, que tantos e tão bons serviços prestaram aos recifenses, foi um processo lento e moroso. Enquanto foi possível manter o serviço, mesmo em condições precárias, o povo usou o bonde até sua extinção total nos anos de 1956 a 1957.
         A popularidade do bonde serviu de inspiração para ditos e expressões populares que entraram para o folclore, por exemplo:

         Andar na linha (do bonde) – Ser correto e sincero nos negócios.
         Cara de bonde – pessoa de duas caras, em quem não se pode confiar.
Pegar o bonde errado – enganar-se quanto ao bom êxito da aventura ou negócio.
         Quem vai pra farol é o bonde de Olinda – nessa conversa fiada eu não caio.
Saltar do bonde em movimento – interromper a cópula, nos momentos finais, visando evitar uma gravidez.
Tocar o bonde pra frente – levar avante resolução ou negócio, paralisado por duvidar do seu êxito.

         Hoje, quem quiser matar as saudades ou conhecer um bonde, há um, do tipo pequeno, com 36 lugares, exposto à visitação pública nos jardins do Museu do Homem do Nordeste, proveniente de contrato de comodato, assinado entre a CELPE e a Fundação Joaquim Nabuco, no dia 5 de março de 1985.





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