Por Luiz Pereira de Souza
Introdução
Dificilmente, nesses últimos dias, alguém pode dizer que não tomou contato com a comemoração da Páscoa ou com algum assunto ou fato relacionado com essa celebração.
Do chamado feriadão da Páscoa aos populares ovos de chocolate encontrados em cada esquina ou porta de comércio, dos presentes, que o comércio procura incentivar as trocas e das celebrações litúrgicas da Paixão e Ressurreição de Cristo, tudo nessa época parece estar ligado à Páscoa.
Porém, quase ninguém sabe o verdadeiro significado e origem desta celebração; se a festa é genuinamente cristã ou apenas recepcionada pela cristandade, havendo quem não faça sequer referência religiosa a esta tão célebre festividade.
Origens e Significado Originais da Páscoa
A celebração da Páscoa tem sua origem no povo judeu antigo, quando para marcar um dos acontecimentos mais significativos de sua existência, instituiu-se um ritual cuja finalidade era trazer à memória deste povo este importante evento de sua história, há aproximadamente 1230 anos a.C.
Originalmente, a festa da Páscoa era tratada como uma celebração individual, porém, com o passar do tempo passou a ser observada em combinação com a Festa dos Pães Asmos, dada a coincidência das datas de comemoração e significados, ambos relacionados a partida do povo judeu para do Egito.
Deixando, portanto, de lado os ovos de chocolate, os presentes, o comércio e tantas outras tradições estranhas à verdadeira Páscoa, busquemos na Bíblia aspectos fundamentais que nos forneçam informações seguras sobre a origem, a prática, o sentido e as implicações desta celebração para a cristandade.
1) A Concepção da Páscoa
Tanto a Páscoa quanto a Festa dos Pães Asmos segundo a narrativa bíblica, foram concebidos por Deus. Em Êxodo 12, vemos que não houve qualquer participação humana na instituição do rito.
A Páscoa é, portanto, projeto de Deus.
2) Sentido Original
Segundo Êx. 12 e 13 e Deut. 13 e 16, vemos claramente, que a Páscoa está ligada aos atos libertadores de Deus em relação ao povo de Israel então em cativeiro no Egito. Três idéias podem ser destacadas sobre o sentido verdadeiro e original da Páscoa:
Libertação do povo de Deus (Israel) do cativeiro de 430 anos em terras do Egito (Ex. 12:40-42; 23:15 e Deut. 116:1).
Libertação do povo da aflição sofrida no Egito (Deut. 16:1-3).
Libertação do povo de Deus da ação do Anjo Destruidor que matou a todos os primogênitos do Egito (Ex. 12:27).
3) Praticantes/Observantes Originais
Todos os israelitas estavam obrigados a participação dos rituais da Páscoa e dos Pães Asmos sob pena de morte, excluídos da prática os estrangeiros e assalariados não circuncidados. A prática deveria ser observada anualmente.
4) Período ou Duração da Páscoa
Combinada com celebração dos Pães Asmos, o ritual era realizado anualmente no 1º mês –(Abibe/Nisan) a partir do dia 14, que coincidia com a primeira lua cheia da primavera e durava até o dia 21 do mesmo mês.
Cronologia da Páscoa
Dia 10 – Compra/separação do Cordeiro Pascal.
Dia 14 – À tarde – imolação do Cordeiro.
Dia 15 – Nas primeiras horas, início do banquete familiar quando era servido o Cordeiro, os pães asmos e as ervas amargas. (Era a Reunião religiosa inicial).
Dias 15/21 – Festa dos Pães Asmos, marcada pela abstinência de fermento, consumo de Pães Asmos e sacrifícios em todos os dias.
Dia 21 – Reunião religiosa final.
5) Os Ingredientes da Páscoa
O Cordeiro (bode ou cabrito)
macho/de um ano/sem defeito.
separado 4 dias antes.
devia ser servido assado – não cru ou cozido – nenhum osso poderia ser quebrado.
o sangue do cordeiro deveria ser usado para marcar vergas e umbrais das portas de cada casa.
a porção servida deveria ser de um cordeiro para cada família ou grupo de família (10 a 20 pessoas).
O cordeiro deveria ser totalmente comido até a manhã seguinte. Eventual sobra deveria ser queimada no fogo, não podendo ser levada para fora da casa. Não se podia sair de casa a noite.
As ervas amargas.
simbolizavam os sofrimentos e dificuldade do povo no cativeiro.
Os pães asmos ou ázimos
pão sem fermento, chamado de “pão da miséria e da aflição”
não podia ser consumido nem possuído fermento nas casas, do dia 14 até o dia 21, sob pena de morte.
lembrava que na noite da saída do Egito não houve tempo para levedar as massas para os pães, pois o povo saiu “às pressas”.
6) A Páscoa e o Cristianismo
A Páscoa, como vimos, instituída por Deus para fazer memória dos seus atos salvíficos na história do povo de Israel, mo início foi uma festa familiar, presidida pelo pai de família, porém com o passar do tempo tornou-se uma celebração litúrgica oficial realizada exclusivamente no templo em Jerusalém e afinal, com o advento do cristianismo foi incorporada pela cristandade como uma celebração que aponta e memoriza a ação libertadora de Cristo para o seu Novo Israel, a Igreja de Cristo – ação libertadora da morte e do pecado, assumindo cada ingrediente tradicional do rito um sentido próprio e atualizado.
Os pães asmos e as ervas amargas – lembra-nos que éramos escravos do mundo e do senhor do mundo – éramos alienados e estrangeiros, mas Deus liberta definitivamente de nossas aflições e sofrimento.
O Cordeiro Pascal – Jesus Cristo é identificado como o cordeiro pascal, cujo sangue derramado livra-nos da morte e abre-nos caminho, para a saída definitiva, da terra da servidão para a liberdade (Jo. 1:29; I Cor. 5:7 e I Pedro 1:19)
Conclusão
A Páscoa antiga marcou a libertação do povo de Deus do Velho Testamento, de sua aflição e escravidão no Egito, da mesma forma que a celebração atual marca as ações libertadoras de Deus – através de Seu Filho, Jesus, com sua Paixão, Morte e Ressurreição – livrando-nos do sofrimento, da escravidão e da morte.
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Luiz Pereira de Souza é pastor na Igreja Presbiteriana Independente de Vila Carrão. Dica do
Saulo Diniz
Comentários
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