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Exposição Completa do Salmo 19 - Spurgeon

Exposição Completa do Salmo 19 - Spurgeon
/ On : 13:53/ SOLA SCRIPTURA - Se você crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no Evangelho que você crê,mas, sim, em si mesmo - AGOSTINHO.

The trasury of David 

INTRODUÇÃO
Seria inútil investigar em que período particular este aprazível poema foi composto, pois nada há em seu título ou temática que possa nos orientar neste sentido. O subtítulo, "Ao mestre de canto. Salmo de Davi," nos informa que Davi o escre­veu e o entregou ao mestre de canto no santuário, para uso dos adoradores reunidos. Na juventude, enquanto cuidava do rebanho de seu pai, o salmista tinha-se dedicado ao estudo dos dois gran­des livros de Deus: a natureza e as Escrituras. E ele tinha-se aprofundado no espírito destes dois únicos volumes de sua biblio­teca a tal ponto que era capaz de compará-los e contrastá-los num estudo disciplinado, engrandecendo a excelência de seu Autor que se vê em ambas as obras. Como são tolos e mal intencionados aqueles que, em vez de aceitar estes dois tomos sagrados e ter prazer em contemplar as mesmas mãos divinas que operaram neles, desperdiçam toda a inteligência no empenho de achar discrepâncias e contradições. Podemos assegurar tranqüilamente que os "Vestígios da Criação" jamais irão contradizer o Gênesis, nem será descoberto um "Cosmos" correto diferente da narrativa de Moisés. Sábio é aquele que lê tanto o livro sem palavras como o livro da Palavra como dois volumes da mesma obra e conclui: "Meu Pai escreveu tanto este quanto aquele."
DIVISÃO
Este salmo divide-se muito claramente em três partes, bem descritas pelos tradutores de nossa versão sob o título: "A Excelência da Criação e da Palavra de Deus." A criação anuncia a glória de Deus, versículos 1-6; a Palavra de Deus anuncia sua gra­ça, versículos 7-11, e Davi ora pedindo graça, versículos 12-14. Deste modo, o louvor e a oração mesclam-se e aquele que aqui exalta a obra de Deus no mundo também suplica por uma obra da graça em si mesmo.
O TEXTO
1.    Os céus proclamam a glória de Deus, eo firmamento
anuncia as obras das suas mãos.
2. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite.
3. Não há linguagem, nem há palavras, e deles ouve nenhum som;
4. no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol,
5.   o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a percorrer o seu caminho.
6. Principia numa extremidade dos céus, e até à outra vai o seu percurso; e nada refoge ao seu calor.
COMENTÁRIO
1. Os céus proclamam a glória de Deus. O livro da natureza contém três páginas: o céu, a terra e o mar, das quais o céu é a primeira e a mais gloriosa, e por meio dele podemos ver as belezas das outras duas páginas. Qualquer livro sem a primeira página é imperfeito, especialmente a Bíblia Natural, uma vez que suas primeiras páginas, o sol, a lua e as estrelas, constituem as chaves sem as quais o texto subseqüente seria obscuro e indiscernível. O homem anda ereto evidentemente para esquadrinhar os céus, e quem começa a leitura da cria­ção através das estrelas o faz no lugar certo.
Os céus está no plural devido a sua diversidade, que compreende a chuva e as nuvens de incontáveis formas, o ar com seus ventos e calmadas, o sol com toda a glória do dia e o céu estrelado com todas as maravilhas da noite. O que o Céu dos céus deve ser escapa ao coração do homem, mas o mais importante de tudo é que lá todas as coisas falam da glória de Deus. Qualquer parte da criação tem mais lições a dar do que a mente humana jamais poderá aprender, mas o reino celestial é particularmente rico em ensino espiritual. Os céus proclamam, ou estão proclamando, pois a continuidade de seu testemunho é o que os verbos querem dar a entender; a todo momento a existência, o poder, a sabedoria e a bonda­de de Deus são alardeados pelos arautos celestiais que res­plandecem sobre nós. Aquele que pensa em fazer conjecturas a respeito da sublimidade divina olhe primeiro atentamente para o alto, para a abóbada celeste. Aquele que deseja imagi­nar como é o infinito, espreite primeiro a vastidão ilimitada do universo. Aquele que deseja conhecer a sabedoria divina, considere o equilíbrio que há no mundo. Aquele que quer co­nhecer a fidelidade divina, trace a regularidade dos movimen­tos planetários; e quem gostaria de obter alguma idéia do po­der, da grandeza e da majestade divinas, avalie primeiro as forças de atração, a magnitude dos astros e o brilho de todo o conjunto celeste. Não é meramente uma glória que os céus proclamam, mas a glória de Deus, pois eles nos apresentam argumentos em prol de um Criador consciente, inteligente, que tudo planeja, controla e preside, que ninguém pode reba­ter de modo a convencer qualquer pessoa que seja sem pre­conceito. O testemunho dos céus não é um simples indício, mas uma declaração inconfundível e clara, do tipo permanen­te e inalterável. Apesar disso tudo, que proveito há numa de­claração em alto e bom som dirigida a um surdo, ou a mais evidente demonstração feita para um cego no sentido espiri­tual? O Espírito Santo de Deus precisa iluminar-nos ou nem todos os sóis da Via Láctea poderão fazê-lo.
O firmamento anuncia as obras das suas mãos. O infinito está repleto das obras feitas pelas mãos habilidosas e criativas do Senhor; mãos atribuídas ao supremo Espírito cri­ador, que prova seu cuidado e ação primorosa, indo ao encon­tro da pequena capacidade de compreensão dos mortais.
É humilhante pensar que até mesmo as mentes mais devota­das e elevadas, quando querem expressar seus pensamentos mais sublimes sobre Deus, precisam usar de palavras e metáfo­ras extraídas da terra. Somos todos crianças e temos de confes­sar: "Penso como criança, falo como criança." Deus está na vas­tidão acima de nós; sua bandeira estelar mostra que o Rei encon­tra-se em casa e levanta seu escudo para que os ateus vejam como ele menospreza suas acusações. Aquele que após olhar para o firmamento se apresenta como um ateu, está ao mesmo tempo se declarando um idiota e mentiroso. É de estranhar que alguns dentre os que amam a Deus ainda temem estudar a natu­reza como o livro que revela o caráter de Deus; a falsa espiritualidade de alguns crentes, muito celestiais para estudar os céus, tem apoiado a atitude soberba dos infiéis que dizem que a natureza contradiz a revelação. Os homens verdadeiramente sá­bios acompanham com um fervor santo os percursos de Jeová tanto na criação quanto na graça; somente os insensatos têm medo de que o estudo honesto deste possa lesar a fé naquele. Bem disse o Dr. M'Cosh: "Muitas vezes fiquei triste com as ten­tativas feitas para contrapor as obras de Deus à Palavra de Deus, incitando, propagando e dando ênfase a sentimentos de inveja que servem apenas para separar partes que deveriam estar em perfeita harmonia. Em especial, sempre lamentei os esforços feitos para depreciar a natureza para exaltar a revelação; isso me pare­ce que é degradar uma parte das obras de Deus na esperança de exaltar e recomendar a outra. Não deixemos que a ciência e a religião sejam como cidadelas oponentes, desafiando uma a ou­tra, com suas tropas a brandir as armas em atitude hostil. Elas possuem muitos adversários em comum, como ignorância e pre­conceito, luxúria e vício, sob todas as formas, e deveriam admitir que desperdiçam força nessa guerra vã. A ciência tem um funda­mento e a religião também; pois que integrem seus fundamentos para que as bases sejam mais amplas, e tornem-se duas seções de uma mesma construção erigida para a glória de Deus. Que uma seja o pátio externo, para.o qual todos olham e admiram e adoram, e a outra seja o interno, onde aqueles que têm fé se ajoelham e oram e louvam. Que uma seja o santuário onde os eruditos apresentem seus incensos mais caros em oferta a Deus, e a outra o Santo dos santos separado por um véu agora partido ao meio, e no qual, num trono da graça aspergido com sangue, servimos o amor de um coração reconciliado, e ouvimos os orá­culos do Deus vivo."
2. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela
conhecimento a outra noite.
Como se um dia desse seguimento
à história no ponto em que o outro a deixou, e cada noite repas­sasse o conto assombroso para a próxima. O original dá a idéia de fluir ou transbordar palavras, como se os dias e as noites se comparassem a fontes que jorram cada vez mais o louvor de Jeová. Ah, beber da fonte celestial e aprender a propagar a gló­ria de Deus! As testemunhas acima não podem ser caladas ou silenciadas; do seu lugar privilegiado, elas anunciam constante­mente o conhecimento de Deus sem se importar com o julgamento dos homens. Mesmo as alterações do dia para a noite são silenciosamente eloqüentes, e a luz e a sombra revelam igualmente o Invisível. Vamos permitir que nossas vicissitudes circunstanciais façam o mesmo, e enquanto bendizemos ao Deus dos nossos dias de alegria, vamos também exaltar Aquele que nos
inspira "salmos na noite".
Seria bom que todo ser humano aprendesse a lição do dia e da noite. Ela deveria permear nossos pensamentos diurnos e noturnos para nos fazer lembrar o fluxo do tempo, o caráter passageiro das coisas terrenas, a brevidade tanto da alegria como da tristeza, a preciosidade da vida, nossa incapacidade total de recuperar as horas passadas e a irresistível aproximação da eter­nidade. O dia nos remete ao trabalho, a noite nos lembra os preparativos para nossa morada final; o dia nos move a trabalhar para Deus, a noite nos convida a descansar nele; o dia nos impe­le a buscar a luz eterna, e a noite nos adverte a escapar das trevas eternas.
3.    Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som. Todo homem pode ouvir as vozes dos as­tros. Muitas são as línguas dos terrestres, mas para os celestiais há senão uma, e ela pode ser compreendida por qualquer mente de boa vontade. O pagão é indesculpável se não percebe as coi­sas invisíveis de Deus presentes em suas obras. Sol, lua e estrelas são pregadores itinerantes, apóstolos em suas trajetórias a con­firmar aqueles que atentam para Deus, e juizes a condenar os que adoram ídolos.
Alguns manuscritos têm uma pequena variante, mais lite­ral e com menos repetições: "Sem linguagem, sem palavras, sua voz não é ouvida"; ou seja, seu ensino não se destina aos ouvidos, nem é propagado em sons articulados; é ilustrado e dirigido aos olhos e ao coração; não desperta o sentido que produz a fé, pois esta vem pelo ouvir. Jesus Cristo é chamado de a Palavra, pois ele é uma demonstração muito mais clara da Divindade do que os céus jamais poderiam dar; afinal de contas, eles são simples instru­tores; nem a estrela, nem o sol podem produzir uma palavra, mas Jesus é a imagem expressa da pessoa de Jeová e seu nome é a Palavra de Deus.
4. Por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas
palavras at
é aos confins do mundo. Embora os corpos celestes se movimentem num silêncio solene, aos ouvidos da razão eles transmitem ensinamentos preciosos. Eles não emitem palavras literais, mas a sua instrução é clara o suficiente para ser descrita.
Horne comenta que a frase empregada indica uma linguagem de
sinais, e que os céus falam através de seus atos e operações impressionantes. As palavras da natureza são como de um surdo mudo; a graça nos fala plenamente do Pai. Através do seu curso, os astros revelam a dimensão de seu domínio, o qual, juntamente com seu testemunho, ultrapassa as extremidades da terra em que habitamos. Nenhuma pessoa abaixo da abóboda celeste vive além dos limites da diocese atendida por esses pregadores no palácio de Deus; é fácil escapar das luzes de ministros que como estrelas estão na mão direita do Filho do Homem; mas até esses fugitivos, se sua consciência ainda não estiver cauterizada, encontrarão um profeta Nata que os acuse, um Jonas que os advirta e um Elias que os atemorize nas silenciosas estrelas da noite. Sobre as almas que conhecem a graça as vozes dos céus exercem ainda influência maior; elas sentem influência das Plêiades e são trazidas para Deus Pai pelos laços brilhantes do Órion.
Aí, pôs uma tenda para o sol No meio do céu o sol se acampa e marcha como um monarca poderoso em seu caminho glorioso. Sem residência fixa, o sol é comparável a um viajante que arma e desarma a tenda, que em breve será recolhida e como um pergaminho. Tal qual um pavilhão real no centro da tropa, o rei sol se mostra entre seus súditos estelares.
5.       O qual, como noivo que sai dos seus aposentos...
Um noivo suntuosamente vestido, com faces irradiando uma alegria que contagia todos ao redor
— assim, porém com ainda mais destaque, é o sol nascente. Se regozija como herói, a percorrer o seu caminho. Como um campeão se alegra ao lançar-se numa corrida, assim apressa-se o sol com uma regularidade inigualável e uma rapidez incansável em sua órbita. Ele, porém, o faz como que brincando; não há sinais de esforço, desânimo ou exaustão. Ne­nhuma outra criatura transmite tamanha alegria à terra como seu noivo, o sol; e nenhuma, nem o cavalo nem a águia, pode ser comparada à ligeireza desse campeão celeste. Toda a sua glória, porém, é a glória de Deus; até o sol brilha sob a luz emprestada do Grande Pai das Luzes.
Ó sol, do grande mundo brilho e coração, vê que ele é maior, dá-lhe louvor tanto ao subir e no alto da exaltação como ao se pôr.
6. Principia numa extremidade dos céus, e até a outra vai o seu percurso... O sol fornece luz até às fronteiras do céu, transpondo o firmamento num movimento contínuo, e a ninguém que esteja dentro de seu raio de ação ele nega luz. E nada refoge ao seu calor. Para cima, para baixo e para os lados o calor do sol exerce a sua influência. As entranhas da terra estão cheias de material antigo produzido pelos raios solares, e até as cavernas mais profundas experimentam esse poder. Em lugares impenetrá­veis para a luz o calor e outras influências sutis encontram um caminho.
Sem dúvida, há um paralelo traçado intencionalmente entre o céu da graça e o céu da natureza. O caminho da graça divina é sublime e amplo, e cheio da sua glória; em todos os as­pectos deve ser admirado e estudado com diligência; tantos suas luzes como suas sombras trazem instrução; ele é proclamado, até certo ponto, a todas as pessoas, e no devido tempo será comple­tamente anunciado até aos confins da terra. Jesus, como um sol, ocupa o centro da revelação, encarnando entre os homens com todo o seu brilho; jubilando-se, como o Noivo da sua igreja, ao revelar-se aos homens; e, como um campeão, ao conquistar glória para si. Ele faz um percurso de misericórdia, abençoando os can­tos mais remotos da terra; e não há almas sedentas, por mais degeneradas e depravadas que sejam, a quem são recusados o calor confortável e o benefício do seu amor — até a morte há de sentir o poder da sua presença e desistir dos corpos dos santos, e esta terra caída há de ser restaurada à sua glória primitiva.
7.A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices.
8.Os preceitos do Senhor são retos e alegram o cora­ção; o mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos.
9.O temor do Senhor é límpido e permanece para sempre; os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmen­te justos.

10.São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos.
11.Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, grande recompensa.
Nos três versículos seguintes temos um breve porém instrutivo conjunto de seis títulos que descrevem a Palavra, seis qua­lidades características e seis efeitos divinos. Os nomes, a natureza e os efeitos da Bíblia ficam bem estabelecidos.
7. A lei do Senhor é perfeita: A referência não é somen­te à lei de Moisés mas à doutrina de Deus, a todo o conjunto de instruções da Sagrada Escritura. A doutrina revelada por Deus é declarada perfeita, e observe-se que Davi tinha apenas uma pe­quena parte das Escrituras. Se um fragmento da porção mais obs­cura e histórica já é perfeito, o que dizer do volume inteiro? Muito mais do que perfeito é o livro que contém a demonstração mais evidente do amor divino, e nos abre a visão da graça redentora. O evangelho é um plano completo ou lei da salvação pela graça; ele apresenta ao pecador tudo o que este precisa para suprir suas terríveis necessidades. Na Palavra de Deus e no plano da graça não há redundâncias nem omissões; por que, então, pintar os lírios que já têm sua cor e dourar o ouro que já foi refinado? O evangelho é perfeito em todas as suas partes, e perfeito como um todo: é crime acrescentar, traição alterar e perfídia retirar algo dele.
E restaura a alma. Ela faz o homem retornar ou ser recuperado para o lugar de onde o pecado o expulsara. O efeito prático da Palavra de Deus é fazer o homem voltar-se para si mesmo, para Deus e para a santidade, e a volta ou conversão não é apenas exterior; a alma é tocada e renovada. O maior agente da conversão do pecador é a Palavra de Deus, e quanto mais próximos nos conservamos dela em nosso ministério, tanto maior a possibilidade de sucesso. É a palavra de Deus, e não a interpretação humana dela, que exerce poder sobre as almas. A lei e o evangelho agem diferentemente, mas o resultado é o mesmo, pois pela ação do Espírito de Deus a alma cede e suplica: "Converte-me, e serei convertido." Tente convencer a natureza corrupta do homem com filosofias e raciocínios; ele sorrirá dos seus esforços, mas a Palavra de Deus logo opera uma transformação.
O testemunho do Senhor é fiel. Deus dá testemunho contra o pecado e em favor da retidão; ele testifica a nossa queda e restauração; seu testemunho é claro, decidido e infalível, e deve ser aceito como correto. O testemunho de Deus em sua Palavra é tão exato que nele encontramos sólido conforto, tanto para o pre­sente como para a eternidade, e nenhum golpe contra ele desferi­do, por mais violento e sutil que seja, poderá diminuir sua força. Que bênção saber que num mundo de incertezas temos algo tão seguro onde nos apoiar! Libertamo-nos, assim, das areias movedi­ças da especulação humana para a terra firme da Revelação Divi­na.
E dá sabedoria aos símplices. Mentes humildes, puras e ensináveis recebem a Palavra e com ela a sabedoria para a salva­ção. Coisas ocultas aos sábios e prudentes são reveladas a criancinhas. Os que se deixam persuadir ficam sábios, mas os so­fistas permanecem tolos. Como lei ou plano, a Palavra de Deus converte e, a seguir, como testemunha, instrui. Todavia, a conver­são é insuficiente; precisamos dar continuidade sendo discípulos. E se temos sentido o poder da verdade, havemos de provar sua autenticidade através da experiência. A perfeição do evangelho converte, mas a certeza a respeito dele edifica; para sermos edificados, não podemos vacilar incrédulos diante da promessa, pois um evangelho de que duvidamos não poderia nos dar sabedo­ria. Somente uma verdade da qual podemos ter certeza pode nos servir de esteio.
8. Os preceitos do Senhor são retos. Os estatutos e os decretos divinos estão fundamentados na justiça e são compreen­síveis para a razão humana. Como um médico prescreve o medi­camente correto, e um conselheiro o parecer adequado, assim é a Palavra de Deus. E alegram o coração. Observemos o progresso: o convertido ganha primeiramente sabedoria, e a seguir felicida­de; a verdade que torna reto o coração, também lhe concede ale­gria. A graça traz júbilo ao coração. A alegria que procede deste mundo reside nos lábios e excita as forças do corpo; os prazeres celestiais, porém, satisfazem a natureza interior e preenchem as faculdades mentais até transbordarem. Não há refresco mais agra­dável do que este, derramado do cântaro das Escrituras. "Para ser feliz, refugie-se e leia a Bíblia."
O mandamento do Senhor é puro. Não há enganos infiltrados que o contaminam, nenhuma nódoa de pecado o polui; ele é o leite não-adulterado, o vinho não-diluído. E ilumi­na os olhos, ou seja, limpa com sua própria pureza a obtusidade humana que interfere no discernimento intelectual: para os olhos obscurecidos por tristeza ou pecado, a Escritura é um oculista habilidoso que os torna claros e radiantes. Olhe para sol e ele lhe cegará os olhos; olhe para a luz maior da Revela­ção e ela os abrirá. A pureza da neve provoca uma cegueira no viajante dos Alpes, mas a pureza da verdade divina exerce o efeito contrário e cura a cegueira natural da alma. Convém novamente observarmos a gradação: o convertido tornou-se um discípulo e a seguir uma alma jubilosa; agora ele obtém olhos perspicazes e, como pessoa espiritual, discerne todas as coisas, embora ele mesmo não seja perscrutado pelos outros.
9. O temor do Senhor é límpido. A doutrina da ver­dade é aqui descrita pelo seu efeito espiritual, ou seja, a consa­gração interior ou temor ao Senhor; ela é límpida em si mesma e limpa do amor ao pecado o coração onde reina, santificando-o. O Sr. Temente a Deus não se satisfaz enquanto cada rua, estrada e viela, sim, cada casa e cada esquina da cidade de Alma-Humana não esteja varrida da sujeira diabólica que a in­festa. £ permanece para sempre. A imundície gera decadên­cia, mas a limpeza é o grande inimigo da corrupção. O princí­pio puro da graça de Deus habitando no coração do homem é permanente e incorruptível; pode ser suprimido por algum tem­po, mas não pode ser destruído. Tanto na Palavra como no coração, quando o Senhor escreve, ele repete as palavras de Pilatos: "O que escrevi, escrevi." Deus não faz rasuras, nem permitirá que outros façam. A vontade revelada de Deus é imu­tável, até mesmo Jesus veio não para destruir mas para cum­prir, e até a lei cerimonial foi mudada somente na sua sombra, a substância que nela reside é eterna. Enquanto os governos das nações são abalados por revoluções e antigas constituições são rejeitadas, é confortador saber que o trono de Deus é inabalável, e sua lei inalterável.
Os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igual­mente justos. Conjunta e separadamente as palavras do Se­nhor são verdadeiras; aquela que é boa no detalhe é ótima no conjunto; não há nenhuma exceção para uma frase isolada nem para o livro como um todo. Os juízos de Deus, em conjunto ou em separado, são manifestamente justos, e não precisam de explanações trabalhosas para se justificarem. As decisões judi­ciais de Jeová, reveladas na lei ou ilustradas na história de sua providência, são a própria verdade e óbvias para toda mente sincera; não apenas seu poder é invencível: sua justiça é inquestionável.
10.São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado. A verdade bíblica enriquece a alma ao mais elevado grau: a metáfora vai ganhando força: ouro - ouro depurado - muito ouro depurado. Ela é boa, melhor, ótima, e merece ser desejada com voracidade maior que a de um famin­to. Uma vez que o tesouro espiritual é mais nobre do que a mera riqueza material, ele deve ser desejado e procurado com um ardor cada vez maior. Fala-se sobre a solidez do ouro, mas o que é mais sólido do que uma verdade sólida? Por amor ao ouro as pessoas abrem mão do prazer, renunciam à tranqüilida­de e põe a vida em perigo; não devemos estar prontos para fazer o mesmo por amor à verdade? E são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. Segundo Trapp: "Aos mais ve­lhos interessa o lucro, aos jovens o prazer; àqueles está reser­vado o ouro, sim, o ouro depurado em grande quantidade e a estes, o mel, sim, o mel puro que escorre dos favos." Os praze­res resultantes de uma compreensão correta dos testemunhos divinos são da mais preciosa ordem. As alegrias terrenas são totalmente desprezíveis se comparadas a eles. Os deleites mais doces, sim, o mais doce de todos são a parte de quem tem a verdade de Deus por herança.
Além disso, por eles se admoesta o teu servo. A Palavra nos lembra tanto dos nossos deveres e perigos, como das soluções. No mar da vida haveria muito mais naufrágios, não fossem os avisos de tempestade divinos enviados em tem­po aos vigilantes. A Bíblia deveria ser nossa Mentora, Monitora, Instrutora e Guardiã de nossa consciência. Por que será que tão poucos homens aceitam os avisos enviados graciosamente? Somente os servos de Deus o farão, pois honram a vontade do seu Mestre. Os servos de Deus não somente se agradam em servi-lo, recebem também uma boa recompensa: em os guar­dar, há grande recompensa. Há um salário e um salário eleva­do, por sinal. Embora não recebamos um salário em dinheiro, acumulamos grandes salários em graça. Os santos podem ser perdedores por um instante, mas serão ganhadores gloriosos a longo prazo, e mesmo agora uma consciência tranqüila não é uma recompensa pequena pela obediência. Aquele que usa na lapela a flor chamada "coração-tranqüílo" é verdadeiramente bem-aventurado. Contudo, a recompensa principal ainda está por vir, e a palavra usada aqui ("calcanhar") sugere que a re­compensa virá no fim da vida, quando o trabalho tiver sido realizado e virmos seu calcanhar, não enquanto estiver em an­damento. Ah que glória será então revelada! Só em imaginá-la já desmaiamos de alegria. Nossa pequena aflição, que é tempo­rária, não merece ser comparada com a glória que será revela­da em nós. Saberemos o valor das Escrituras quando nadarmos nesse mar de completo gozo para o qual suas correntezas nos conduzem, se nos deixarmos levar.
12.Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas.
13.Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão.
14.As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha mi­nha e redentor meu!
12. Quem há que possa discernir as próprias faltas? Uma pergunta que já contém em si a resposta. Um ponto de exclamação na verdade é mais indicado que o ponto de interro­gação. Pela lei obtém-se o conhecimento do pecado e, na pre­sença da verdade divina, o salmista se admira com o número e a depravação de seus pecados. O bom conhecedor da Palavra conhece melhor a si mesmo; porém até este ficará perplexo diante das coisas que desconhece, mais do que está satisfeito com o que já sabe. Fala-se de erros ridículos, mas para um homem de bom senso eles são na verdade trágicos. Alguns li­vros trazem em suas páginas iniciais uma errata; em nossa vida, porém, a errata seria do tamanho da obra se tivéssemos sensibilidade suficiente para enxergar estes erros. Na velhice, Agos­tinho escreveu uma série de retratações; deveríamos escrever uma biblioteca, se tivéssemos a graça de sermos convencidos de nossas faltas e de confessá-las. Absolve-me das que me são ocultas. Tu, Senhor, podes ver em mim faltas inteiramente ocul­tas a mim mesmo. Não posso esperar ver todas as minhas má­culas; por isso, ó Senhor, lava no sangue expiador todos aque­les pecados que a minha consciência já detectou. Como conspiradores ocultos, os pecados secretos precisam ser descobertos ou poderão ser fatais; é aconselhável, portanto, orar bastante sobre eles. No Concilio de Latrão da Igreja de Roma, foi sanci­onado um decreto segundo o qual todo crente verdadeiro devia confessar todos os seus pecados anualmente ao sacerdote jun­to com a declaração de que não haveria esperança de perdão, a menos que se cumprisse o decreto. O que pode ser tão absurdo quanto este decreto? Será que eles supõem que são capazes de contar seus pecados tão facilmente como contam os dedos das mãos? Se pudéssemos receber perdão de todos os pecados que cometemos em uma hora, confessando-os, nenhum de nós con­seguiria entrar no céu; uma vez que, além dos pecados por nós conhecidos e por isso confessáveis, existe uma multidão de pe­cados tão malignos quanto os que lamentamos, porém secre­tos e fora do alcance de nossos olhos. Se tivéssemos olhos como os de Deus, iríamos pensar de outra forma acerca de nós mes­mos. As transgressões que enxergamos e confessamos são como as pequenas amostras que um agricultor exibe no mercado, en­quanto seus celeiros estão abarrotados na fazenda. São pouquíssimos os pecados observados e detectados, em compa­ração com aqueles ocultos a nós e não vistos pelas criaturas que nos cercam.
13. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine. Esta oração séria e humilde ensina-nos que os santos podem cometer o pior dos pecados, a menos que sejam impedidos pela graça e que, por isso, devem vigiar e orar para não caírem em tentação. Existe no melhor de todos os homens uma tendência natural para o pecado e tal, como um cavalo, precisamos ser detidos por rédeas, ou nos precipi­taremos no erro. Os pecados intencionais são peculiarmente perigosos. Todos os pecados são graves, mas alguns são mais graves que outros. Todo pecado carrega em si o veneno da rebelião e está cheio da traiçoeira rejeição de Deus; porém há certos pecados que demonstram um desenvolvimento maior do espírito central da rebeldia e trazem estampado em suas faces o orgulho insolente que afronta a soberania do Altíssimo. É errado supor que, porque todos os pecados geram condena­ção, um não seja maior que o outro. O fato é que, enquanto toda transgressão é gravíssima e pecaminosa, algumas têm uma coloração mais escura e um matiz mais manchado de escarlate pela criminalidade do que outras. A soberba do pre­sente texto é ó pior dos pecados; ela encabeçam a lista das iniqüidades. É notável que, embora a lei judaica previsse uma expiação para cada tipo de pecado, havia uma excessão: "A pessoa que fizer alguma coisa atrevidamente [...] injuria ao Senhor; tal pessoa será eliminada do meio do seu povo."2 E agora, na dispensação cristã, embora no sacrifício de nosso bendito Senhor haja expiação grande e preciosa para a sober­ba, que purifica os que pecam, desta forma, sem dúvida os pecadores insolentes que morrem sem perdão receberão uma dose dupla da ira de Deus e uma dose ainda mais terrível do castigo eterno no abismo destinado aos ímpios. Por esse mo­tivo Davi está tão ansioso para jamais deixar-se dominar pelo poder desses males gigantescos. Então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão. Ele estremece com o pensamento de um pecado arrogante. O pecado secreto é um trampolim para o pecado da soberba e a ante-sala do "pecado para morte." Aquele que não peca deliberadamente está no caminho de ser inocente, até onde um pobre pecador pode ser; porém aquele que tenta Satanás para tentá-lo se coloca numa trilha que o levará de mal a pior.
14. As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu! Uma oração bela e tão espiritual que é quase tão comumente usada na adoração cristã como a bên­ção apostólica. As palavras dos lábios são zombaria, sem o meditar do coração; uma concha não é nada sem a ostra; mas as duas partes juntas são inúteis a menos que sejam agradá­veis; e mesmo sendo aceitas pelo homem, não passarão de vaidade se não forem aceitas na presença do Senhor. Na oração precisamos ver Jeová como a rocha que nos torna fortes e o Redentor que nos salva, ou não estaremos orando corre­tamente; e faremos bem em demonstrar nosso interesse pes­soal usando a palavra meu; do contrário, nossas orações se­rão atrapalhadas. Nosso parente mais próximo, "Goel" ou bendito Redentor, dá um fechamento bendito ao salmo; o poema começa com o céu, mas termina com aquele cuja glória enche o céu e a terra. Bendito Resgatador, permite-nos medi­tar agora de maneira aceitável em teu sublime amor e ternura.
Extraído de The trasury of David 

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É importante esclarecer que este BLOG, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). Além disso, cabe salientar que a proteção legal de nosso trabalho também se constata na análise mais acurada do inciso VI, do mesmo artigo em comento, quando sentencia que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença". Tendo sido explicitada, faz-se necessário, ainda, esclarecer que as menções, aferições, ou até mesmo as aparentes críticas que, porventura, se façam a respeito de doutrinas das mais diversas crenças, situam-se e estão adstritas tão somente ao campo da "argumentação", ou seja, são abordagens que se limitam puramente às questões teológicas e doutrinárias. Assim sendo, não há que se falar em difamação, crime contra a honra de quem quer que seja, ressaltando-se, inclusive, que tais discussões não estão voltadas para a pessoa, mas para idéias e doutrina

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