Marina Silva, a única candidata evangélica na disputa presidencial, vem causando polêmicas em torno de sua religiosidade. Não que ela alimente essas polêmicas, mas alguns jornalistas causam um alvoroço em torno dela. Muitos temem uma ingerência religiosa no seu governo. Nesse espírito, a revista Época entrevistou o pastor Sóstenes Apolos, da Assembleia de Deus no Plano Piloto, igreja onde Marina é membro.
A repórter Mariana Sanches demostrou pouco conhecimento do universo evangélico e assembleiano. A entrevistadora perdeu tempo perguntando sobre “usos e costumes”, e pelo jeito não sabia que a Assembleia de Deus é uma igreja muito heterogênea, ondena verdade são várias “Assembleias de Deus”. A única unidade, pelo menos aparente na Assembleia de Deus, é a sua doutrina pentecostal. O restante (liturgia, costumes, forma de governo, musicalidade) depende da liderança local.
Outra. A reportagem mostra Sóstenes Apolos como uma espécie de “mentor espiritual” da candidata verde. Ora, no protestantismo a relação de fé com a transcendência é muito individualizada. A reforma Protestante defendia a doutrina do “sacerdócio universal” de todos os cristãos. Ou seja, a relação é direta com Deus e não há “mentores espirituais” no protestantismo.
Miriam Leitão e Marina Silva
Em sua coluna do jornal O Globo, a jornalista Miriam Leitão surpreendeu. Leitão argumentou que reprova a ideia de perguntas em torno da religiosidade de Marina Silva se ela não faz isso com os demais candidatos. Leitão escreveu:
Na entrevista que fiz esta semana com Marina Silva não perguntei de religião. Foi proposital. Ao me preparar para a entrevista, me dei conta de que já entrevistei muitos candidatos à Presidência, nas últimas cinco eleições, e nunca perguntei a qualquer dos candidatos se, de alguma forma, suas convicções religiosas seriam parte do programa de governo. E eles tinham religião. As perguntas sobre a religião evangélica de Marina Silva aparecem de várias formas, são recorrentes, todas revelam o mesmo temor: o de que ela imponha ao país, caso eleita, suas crenças religiosas através do currículo escolar ou padrões de comportamento. Um temor que mais parece preconceito.
Sempre pensei isso. Independente se o presidente é a favor ou contra o aborto, por exemplo, quem decide isso é o legislativo (deputados federais e senadores). Marina Silva é uma mulher democrática e nunca imporia seus valores cristãos na sociedade brasileira. Nenhum político cristão fez e faz isso. Só gente tonta fica pensando essas coisas. É fruto de uma ignorância histórica. O cristianismo não é islamismo. Não existe Estado cristão absoluto, mesmo no Vaticano existem não cristãos. O laicismo nasceu em sociedades protestantes.
Aline Barros e Fernanda Brum no Domingão do Faustão
É, duas cantoras bem conhecidas no mundo evangélico foram até o Faustão e lá cantaram. Isso é bom ou ruim? Sei lá. Mas não seja ufanista. O Brasil não se tornará cristão porque cantores evangélicos estão no Faustão. Há muito tempo que músicos cristãos cantam nos programas de maior audiência da TV norte-americana e nem por isso os Estados Unidos se renderam aos pés do Senhor. É bom que os evangélicos ganhem espaço, mas as emissoras fazem isso não por conversão, mas sim pela busca de audiência. Aliás, as emissoras de TV sempre estão em busca de audiência, pois vivem disso.
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